Submarinos serão força estratégica
Programa de construção custa R$ 120 milhões por mês; Marinha domina o ciclo completo do combustível nuclear.O programa de construção de uma nova frota de submarinos de ataque - incluído um grande navio de propulsão atômica - custa R$ 120 milhões por mês; gera, neste momento, cerca de 9 mil empregos, dos quais ao menos 3,2 mil diretos, e está adiantado no tempo.
O corte da primeira seção de metal do primeiro submarino da classe Scorpéne/Br produzido no País será feito no próximo sábado no canteiro de obras de Itaguaí, no litoral sul fluminense. Até agora não faltou dinheiro.
Os recursos previstos para 2011 somavam R$ 1,8 bilhão. Aplicada a redução determinada em janeiro pela presidente Dilma Rousseff a todo o Orçamento, o total baixou para R$ 1,5 bilhão. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, anunciou, no dia 28 de junho, que os R$ 300 milhões contingenciados têm grande chance de ser liberados até o fim do ano.
O ProSub, nome oficial do projeto, foi definido como "fator estratégico" para a defesa nacional, segundo documento reservado a que o Estado teve acesso. O relatório destaca: 95% das mercadorias do comércio internacional brasileiro, avaliadas em US$ 300 bilhões anuais, circula por vias marítimas "e exige proteção adequada".
A área de interesse econômico no mar equivale à da Europa Ocidental - aproximadamente 4,5 milhões de km². Nela, estão sendo mapeadas amplas reservas de metais pesados, de alto valor para as indústrias eletrônica, aeronáutica, de sistemas de precisão e materiais para superligas.
Mais que isso, o petróleo de grande profundidade ocorreria não apenas na província do pré-sal, na bacia de Santos, mas sim em toda a linha da plataforma oceânica, desde o sul, no litoral de Santa Catarina, até o eixo da ilha de Maracá, no Amapá.
Domínio atômico
A 600 quilômetros de distância, no Centro Aramar, em Iperó, interior de São Paulo, a Marinha concluiu a construção da Usina de Gás de Urânio, a Usexa. Com ela o País passa a dominar o ciclo completo do combustível nuclear, a última etapa do processo, que ainda era comprado de prestadores de serviço estrangeiros - no caso, a Cameco, no leste do Canadá.
A obra deveria estar concluída no fim de 2010 para entrar em produção três meses depois. Houve problemas com fornecedores. Há novos prazos. A primeira carga de yellow cake, o resultado primário do beneficiamento do urânio, está prevista para as próximas semanas.
Depois disso, a Comissão Nacional de Energia Nuclear fará uma inspeção geral. Em setembro, a Usexa começa a receber elementos sensíveis, como nitrato de urânio e ácido fluorídrico.
Os testes devem durar 150 dias. De acordo com o almirante Júlio Moura Neto, comandante da Marinha, a produção plena "só começa em 2012". A usina vai fabricar, por ano, 40 toneladas. O volume atende, com sobras, às necessidades da Defesa.
O Centro Tecnológico criou e produz ultracentrífugas que separam o U-235, rico em energia, do U-238, mais pobre. O enriquecimento é limitado a 5% e em outra linha a 20%, para aplicações científicas e médicas. Armas nucleares exigem níveis acima de 90%. Desde que foi revitalizada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2007, a pesquisa recebe R$ 130 milhões por ano.
As agendas em Iperó e Itaguaí precisam coincidir: em 2016, os técnicos iniciam a longa integração do reator com o casco da embarcação movida a energia atômica. O navio, de 4.1 mil toneladas de deslocamento, vai entrar em operação cinco anos depois.
É um gigante de 100 metros de comprimento, com autonomia limitada apenas pela capacidade da tripulação de 100 militares. Em Iperó, especialistas trabalham com maquetes de acrílico para dar o que consideram "a dimensão humana" ao espaço exíguo do submarino.
O reator custou US$ 130 milhões. Está parcialmente pronto e estocado no Centro Aramar. O consórcio contratado pela Marinha para cuidar do empreendimento é formado pela brasileira Odebrecht Defesa e Tecnologia e pela francesa DCNS. O comando da Força detém a golden share, participação minoritária, porém, com direito de veto.
O grupo da França é o transferidor da tecnologia envolvendo, na fase inicial, que se estende até cerca de 2021, quatro modelos convencionais, dotados de motores diesel-elétricos e um nuclear.
O valor total do pacote é de 6,7 bilhões. A etapa inicial, em execução, vale 1,8 bilhão cobrindo as obras de um novo estaleiro e uma nova base naval, ambos de alta sofisticação.
A entrega do navio inaugural da classe, um Scorpéne de 1.870 toneladas, está prevista para o segundo semestre de 2016. Os outros três submarinos do tipo S-Br sairão, até 2021, do novo estaleiro. No futuro, projetado até 2047, a Marinha contempla outros cinco submarinos nucleares e 15 diesel-elétricos, além de mais cinco, modernizados.
Construção acelerada
As obras civis estão sendo executadas em três turnos e terminam em 2015, na Ilha da Madeira, em Itaguaí, baía de Sepetiba. Ao lado das instalações da Nuclep, o braço industrial do complexo nuclear do Brasil, a Odebrecht Defesa e Tecnologia está tocando a Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas, UFEM.
A gleba do estaleiro e da base soma 980 mil metros quadrados, dos quais 750 mil m² na água. O acesso ao conjunto se dará por um túnel escavado em rocha de 850 metros de comprimento e uma estrada exclusiva de 1,5 quilômetro.
Haverá 2 píeres de 150 metros cada um e três docas secas (duas cobertas) de 170 metros. No total, serão 27 edifícios. A dragagem passa de 6 milhões de metros cúbicos. O plano da obra prevê a geração de 700 empregos diretos. Pronta, a instalação poderá dar apoio técnico a uma frota de dez submarinos e terá capacidade para construir duas unidades novas simultaneamente.
Um dos prédios, destinado ao procedimento de troca do reator do navio nuclear ou do combustível, será alto, equivalente a 16 andares. Os submarinos vão circular, entrar e sair das instalações por meios próprios, movimentando-se por uma zona molhada com 340 mil m².
No momento, seis dragas especializadas trazidas da Bélgica atuam no local. O 1,5 milhão de metros cúbicos de areia extraídos poderiam encher um estádio do tamanho do Maracanã.