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Brasil perde US$ 80 bilhões por ano com gargalos logísticos

As empresas instaladas em território brasileiro perdem cerca de US$ 80 bilhões ao ano por causa da falta de investimentos públicos no setor de logística – portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. É o que apontam cálculos feitos por Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral (FDC). Resende diz que o valor corresponde a 4% do Produto Interno Bruto (PIB), quantia idêntica ao volume que o País precisa investir anualmente nos próximos dez anos para acabar com os gargalos do setor.

Para o pesquisador, isso significa que não há canais suficientes para escoar toda a produção nacional para os mercados interno e externo. De acordo com Resende, nos últimos 30 anos os aportes nos modais logísticos brasileiros ficaram estagnados em apenas 1,5% do PIB. “Dentre os Brics (grupo de países emergentes composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), estamos em último lugar na relação entre o PIB e os custos logísticos, referentes a transporte (portos e aeroportos) e armazenagem (armazéns, distribuição)”, diz.

Ele explica que a referência para os cálculos foram os Estados Unidos, país de dimensões continentais e com matriz energética consolidada. Quanto menor o percentual do PIB gasto com logística, mais eficientes são os serviços. “O custo logístico norte-americano é 8% do PIB. No Brasil, esse percentual é de 12%, ou seja, a competitividade menor gerou a diferença de 4% (que no caso do Brasil representam R$ 80 bilhões). Com os investimentos feitos nos últimos dez anos, a China alcançou o percentual de 8%, o mesmo dos EUA. A Índia e África do Sul estão com 10% cada uma”, afirma.

Resende avalia que um dos maiores problemas é a dependência das rodovias. “Segundo dados do Ministério dos Transportes, a malha rodoviária brasileira, de 1,6 milhão de quilômetros, transporta cerca de 60% de tudo que é movimentado no País. Desse total, apenas 12% das rodovias são asfaltadas. Já a China e a Índia têm 1,6 milhão de km asfaltados, cada uma. O frete de um caminhão trafegando por uma via de terra cresce 30% sobre aquele feito em via asfaltada”, explica.

O pesquisador da Dom Cabral critica a pequena malha ferroviária, que, segundo projeções do Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES), deverá ser expandida dos atuais 28,6 mil quilômetros para 40 mil quilômetros em quatro anos, com recursos da ordem de R$ 30 bilhões. “Se a gente conseguir colocar esses 11 mil quilômetros de ferrovias em direção à fronteira agrícola, aumentaremos a competitividade da malha ferroviária”, avalia. O número de portos também é pequeno. “São oito mil quilômetros de costa e só os portos de Santos (SP) e Paranaguá (SC) têm capacidade de movimentar grandes volumes”, afirma. Apesar do cenário, Resende se diz otimista. “O Brasil, através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), voltou a colocar o investimento em logística na pauta pública nacional”, conclui.
 

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