Lewandowski vota pela absolvição de João Paulo Cunha
Ricardo Lewandowski devolveu a esperança, a confiança e o sorriso à defesa dos réus do mensalão. A absolvição do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) fez seu advogado, o criminalista Alberto Zacharias Toron, deixar o Supremo Tribunal Federal no início da noite reverenciando "a densidade" do voto do ministro revisor e se declarando "muito feliz, muito feliz mesmo", enquanto era cumprimentado e beijado por colegas de beca. "Toron, você é dez, dez, dez", abraçou-o Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakai, que defende o marqueteiro Duda Mendonça.
O voto de Lewandowski empolgou até quem não foi julgado na sessão de quinta-feira, 23. Márcio Thomaz Bastos, o decano dos causídicos, viu na manifestação do revisor a brecha que esperava para retocar sua estratégia em favor do cliente, o executivo Roberto Salgado, do Banco Rural. "Provavelmente, apresentaremos novo memorial à luz das discussões de hoje (quinta-feira). O contraditório (entre Lewandowski e o relator, Joaquim Barbosa) é sempre melhor que o monólogo."
A defesa andava carrancuda, apreensiva até, sobretudo ao final da sessão de quarta-feira, quando o revisor se pôs a condenar implacavelmente - Henrique Pizzolato, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e dois peculatos; Marcos Valério e seus ex-sócios, Cristiano Paz e Ramón Hollerbach, por corrupção ativa e dois peculatos. Mas, ontem, o cenário mudou.
"Vamos ter agora dois pontos de apoio, o voto do relator e o voto do revisor, para que os outros ministros façam as suas opções, ou até apareça uma terceira posição, ou seja, ao invés de um julgamento rolo compressor temos um julgamento dialogado, onde as questões vão ser discutidas uma a uma", declarou Thomaz Bastos.
Contradições. O fator Lewandowski o faz mirar lá na frente alguma medida que poderá fazer arrastar por muito tempo a solução final do julgamento. "Esse acórdão é difícil de redigir. É um acórdão no qual já se pode divisar até pelo seu caráter confederativo, porque são vários acórdãos reunidos em um só, contradições, omissões, obscuridades que vão dar ensejo no mínimo a embargados de declaração, alguns até com efeitos modificativos talvez. Ou embargos infringentes, se houver quatro votos a favor de alguém que queira fazer o embargo. Ainda está tudo muito confuso, é tudo oral, verbal, isso precisa olhar no papel."
Para Toron, o ministro relator, Joaquim Barbosa, "não apenas ignorou as provas dos autos, como as que apresentou foram amplamente distorcidas". Antes mesmo do encerramento da audiência de ontem, ele dizia que o voto do revisor abria perspectivas para outros réus. "Onde ele (João Paulo) é absolvido, os diretores da SMPB também deverão ser absolvidos. Lewandowski deixa claro que havia uma prática de mercado no sentido de terceirização."
Indagado sobre o fato de o revisor ter condenado todos os outros réus desse bloco e absolvido o deputado, Toron ponderou. "As imputações são diferentes, ontem (quarta-feira, 22) o ministro cuidou da questão do Banco do Brasil com a DNA, hoje (quinta-feira, 23) 0 de um assunto completamente diferente que tem a ver com a Câmara. Mas ainda não há nada a ser comemorado, vamos aguardar serenamente a continuação do julgamento."
Ao sair do plenário, o advogado deparou com foguetório e buzinaço no entorno da Corte. "É por causa do João Paulo?", perguntou Toron, em tom de brincadeira. Eram grevistas federais protestando contra o governo, contidos por um cordão da tropa de choque. Ligou o celular e viu que o cliente lhe havia mandado um torpedo. "Parabéns, esse voto me dá um grande alento."