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Comércio com a Ásia traz surpresas ao país

Notícias curiosas chegam da Ásia: as exportações brasileiras tiveram, nos primeiros sete meses do ano, mau desempenho nos principais mercados, China e Japão, mas excelente resultado em países da região, como Índia, Tailândia, Vietnã e Filipinas.

O grande salvador da pátria exportadora foi o petróleo, com um aumento nas vendas brasileiras de mais de US$ 1 bilhão aos asiáticos, mais que o suficiente para cobrir a queda de quase US$ 300 milhões nas importações asiáticas de minérios de ferro e cobre.

Aumentam também exportações de produtos manufaturados a países como a Tailândia, para onde o Brasil duplicou as vendas totais, elevando-as a US$ 1,2 bilhão.

Os dados mostram que há mercado para o Brasil na Ásia, e não só para as commodities que dominam a pauta. "As empresas brasileiras tradicionalmente pensam na América Latina e Estados Unidos, quando falam em exportação. Abrir-nos para a Ásia é um desafio", comenta a secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Tatiana Prazeres.

O interesse asiático, inclusive por produtos não tradicionais, é confirmado por empresários com experiência na região, como Deonisio Petry, da Figwal Transportes Internacionais, especializada em comércio exterior. "Nossos parceiros na China e Índia aumentaram consultas por compras, são pequenas quantidades, mas produtos diversos", confirma. Vinho, para a China, e vagões de aço inoxidável, da Alstom, para a Índia, por exemplo.

Índia e outros países da Ásia compensam Japão e China

"Existem mercados na Ásia a serem explorados, inclusive em commodities", endossa o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. "Um de nossos maiores problemas ainda é a infraestrutura de exportação."

De fato, levantamento feito pelo Ministério do Desenvolvimento para o Valor mostra que o maior aumento nas exportações brasileiras à Ásia se deu nos produtos básicos, como petróleo, soja, algodão e milho: US$ 2 bilhões, ou 35% a mais que nos primeiros sete meses do ano, em relação ao mesmo período de 2011.

As vendas de mercadorias industrializadas aumentaram 12%, o que fez a participação desse tipo de produto no total da exportações baixar de 31% entre janeiro e julho de 2011 para 27,5% nos sete primeiros meses deste ano.

Alguns produtos mostram grandes percentuais de crescimento nas exportações aos asiáticos devido à pequena base de comparação em 2011. É o caso das partes e peças automotivas, 767% de aumento, que elevaram as vendas a US$ 82 milhões neste ano, até julho. Ainda assim, chama a atenção o salto nas vendas de algodão, 275%, e milho, 126%. As vendas de óleo de soja cresceram duas vezes e meia.

Parte do aumento nas compras de soja em grão é atribuída à antecipação nas vendas em 2012. A novidade é a entrada de novos compradores, com a desaceleração na China. A Tailândia, que não comprou nem um grão do Brasil nos primeiros sete meses de 2011, neste ano comprou US$ 400 milhões, quase 785 milhões de toneladas.

Tatiana Prazeres anuncia hoje os resultados do comércio exterior em agosto, que devem confirmar as novas tendências de comércio com os asiáticos. Ela reconhece o desequilíbrio na pauta de exportações à Ásia, 73% da qual em produtos básicos. O governo e empresas privadas tentam aumentar o valor agregado das vendas aos asiáticos e têm a simpatia da China, cujos dirigentes já prometeram à presidente Dilma Rousseff apoiar o esforço exportador brasileiro.

Em novembro, uma missão comercial com empresas de alimentos, chefiada pelo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, vai à China em busca de compradores para produtos brasileiros. Empresas do setor, como a Marfrig, já tem se associado a empresas chinesas para explorar o promissor mercado de alimentos prontos no país.

As vendas de carne de frango à Ásia aumentaram 18,5%, apesar da queda de quase 30% nas importações do produto brasileiro no Japão, que foram parcialmente compensadas por um aumento de 30% nas vendas à China. O setor está otimista, mesmo em relação aos japoneses, que estariam apenas fazendo ajustes de estoques.

No Japão os produtores fazem campanha de marca: há restaurantes em Tóquio onde o cardápio explicita os pratos feitos com "brazilian chicken". O setor espera missões de técnicos sanitários da Indonésia e da Malásia, neste ano, no esforço para derrubar barreiras como se fez na China, durante o governo Lula. "Desde que os chineses abriram o mercado, nossas exportações crescem exponencialmente", comenta Ricardo Santin, da Abef, a associação dos exportadores de frango. "Saltaram de 20 mil toneladas para 80 mil e, neste ano, devemos chegar a 200 mil."

No ano passado, a Índia passou do 20º ao 8º lugar entre os mercados consumidores de produtos brasileiros, principalmente pelo aumento nas compras de petróleo, óleo de soja, açúcar e sucata de ferro e aço. Oito destinos da região (Índia, Tailândia, Hong Kong, Vietnã, Taiwan, Filipinas, Indonésia e Coreia do Sul) passaram de um quinto a um quarto do mercado para exportações do Brasil na Ásia.

Seria um erro fechar os olhos para o potencial asiático como consumidor de manufaturados. Chama atenção, em alguns países, como a Tailândia, o aumento nas compras de semimanufaturados de ferro e aço e outros produtos com crescimento de quase 500%. Empresas manufatureiras, como Gerdau e Eaton, de autopeças, mostram-se galhardamente entre os cinco principais exportadores do Brasil ao país, quebrando a predominância das tradings e grandes multinacionais agrícolas nas listas dos maiores fornecedores do Brasil aos países da região.

Valores baixos, em vendas inferiores a US$ 1,5 milhão, escondem crescimento impressionante, como a venda de tubos de ferro e de cilindros de laminadores para a Coreia, que aumentaram mais de 500%. Pesquisar os números do comércio para a Ásia é uma fonte de surpresas, olhar com mais ambição para esses mercados pode se mostrar mais surpreendente ainda.
 

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