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Com vendas em queda, governo abandona meta de exportação

Alessandro Teixeira, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, anunciou hoje que o governo abandonou a meta de exportar US$ 264 bilhões este ano. Ele não quis fazer uma nova previsão e afirmou que o cenário está “confuso” por causa da crise internacional e das greves do funcionalismo público, que atrapalham os embarques. Segundo Teixeira, a “briga” agora é manter o patamar de exportações do ano passado.

Dificilmente o ministério divulgará uma nova meta de exportação. O governo, que tem a obrigação de ser otimista, não pode prever queda das exportações, que hoje parece ser o cenário mais provável. Faltam 81 dias úteis para o fim do ano e, para empatar com os US$ 256 bilhões exportados em 2011, o País precisaria embarcar US$ 1,276 bilhão por dia – uma média que não foi alcançada em nenhum mês até agora.

Em agosto, as exportações caíram 14,4% em relação ao mesmo mês do ano passado. No acumulado do ano, a queda é de 4,8%. E a tendência para os próximos meses é ainda pior. A soja, cujos preços recordes vinham segurando a balança comercial, acabou. Os produtores anteciparam as vendas e praticamente não restam mais grãos para embarcar.

Os preços do minério de ferro também estão em queda livre, alcançando patamares mais baixos do que os previstos pelos analistas. A cotação da tonelada do produto atingiu US$ 75 nos portos brasileiros (ou US$ 90 ao chegar na China), muito abaixo dos US$ 181 que chegou a bater no auge no ano passado. De janeiro a agosto, a receita obtida com o minério de ferro já caiu 24% e vai ceder mais, porque ainda não reflete os contratos que estão sendo fechados agora.

José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), prevê que as exportações brasileiras vão ficar em US$237 bilhões este ano, 7,5% a menos que em 2011. “No início do ano, quando divulguei esse número, fui considerado pessimista. Hoje sou realista”, afirma. O governo demorou dois meses para divulgar a sua meta e veio com um número apenas 3% maior do que em 2011. E mesmo assim teve que desistir.

Não dá para dizer que a queda das exportações é uma grande surpresa em um mundo em crise, mas não deixa de assustar quem se acostumou a ver o Brasil bater recordes desde 2003. Foi uma época de ouro para o comércio exterior. Os embarques mais do que triplicaram, saindo de US$ 73 bilhões em 2003 para US$ 256 bilhões no ano passado.

A exceção foi 2009, quando a crise que começou com a quebra do banco de investimentos Lehman Brothers se espalhou e as exportações brasileiras caíram 22,7%. Pode ser que o País atravesse hoje apenas um repeteco daquela época e que os embarques retomem seu vigor quando a turbulência passar. Mas muitos analistas não apostam nisso.

A China, que alimentou o boom de exportações do Brasil, particularmente os embarques do minério de ferro, está crescendo mais devagar. Não apenas porque foi atingida pela crise, mas também porque atravessa uma profunda mudança interna. O eixo de crescimento chinês está se deslocando do investimento (que requer muito minério) e das exportações para o consumo interno. Se essa transição for bem sucedida, pode ser o fim do bônus do minério de ferro para as exportações brasileiras e o início de uma ciclo complicado para o comércio exterior. A conferir.

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