China pode aceitar supernavios da Vale
A Vale está apostando em uma melhora da economia chinesa para que a demanda pelo minério de ferro aumente.
Isso poderia abrir caminho para seus supernavios, os chamados Valemax, abastecerem diretamente o mercado para o qual foram projetados, mas onde hoje enfrentam restrições.
A decisão do governo chinês de afrouxar as regras para o atracação desses navios poderia ser uma grande vantagem para a maior produtora de minério de ferro do mundo.
O tamanho do Valemax, maior embarcação de carga em operação hoje, é praticamente o dobro dos cargueiros que ficam em segundo lugar.
O supernavio da Vale tem porte de 400.000 toneladas e foi desenvolvido pela mineradora para reduzir a desvantagem de estar mais longe do mercado chinês do que suas concorrentes BHP Billiton e Rio Tinto, que têm operações na Austrália.
Temendo a concorrência, armadores chineses, incluindo a China Ocean Shipping (Group) Co., promoveram um bem-sucedido lobby no início de 2012 para essencialmente proibir o Valemax, classificando-o como "uma questão de monopólio e concorrência desleal" e citando preocupações de segurança.
O governo chinês, seduzido pelo argumento das siderúrgicas e outras empresas de que os navios podem significar minério de ferro mais abundante, e consequentemente mais barato, está considerando repassar aos portos, individualmente, a decisão quanto ao tamanho dos navios que podem receber.
Os portos chineses podem receber navios para até 300.000 toneladas de porte, apesar de alguns já terem começado a construir instalações para receber navios maiores como o Valemax.
O presidente da Vale Minerals na China, João Mendes Faria, disse ontem que o país asiático pode importar minério de ferro a um custo mais eficiente se as autoridades abrirem os portos aos navios Valemax. "A decisão está nas mãos da China."
No fim de agosto, o Ministério dos Transportes divulgou uma proposta preliminar para permitir que as autoridades portuárias aceitem navios maiores que os limites atuais, desde que acatem restrições de segurança e outras exigências.
Analistas dizem que a linguagem da proposta é vaga, mas pode abrir as portas para o Valemax. "Minha interpretação é que isso irá permitir navios com capacidade nominal superior a 300.000 toneladas de porte", diz Bonnie Chan, analista da Macquarie Securities. Mas a embarcação ainda pode ser obrigada a transferir parte da carga para outros navios menores antes de chegar ao porto para atender aos limites de segurança do cais, diz o texto da proposta.
O Ministério dos Transportes não quis comentar. Uma autoridade que trabalha com a proposta disse que ainda está ouvindo a opinião da indústria e que nenhuma decisão foi tomada.
Faria disse que a Vale não recebeu nenhum comunicado oficial das autoridades chinesas, mas que está ansioso por ver que rumo tomarão as regras. "A nova regulação pode indicar como as coisas vão avançar."
A Vale encomendou os primeiros de 35 navios Valemax em 2008 a estaleiros asiáticos, a um custo de mais de US$ 100 milhões cada.
Ela é dona de 19 supernavios e tem outros 16 por meio de contratos de leasing. Mas eles têm atracado fora da China - principalmente nas Filipinas - e usam navios menores para levar a carga da Vale aos portos chineses.
A China produz quase metade do aço mundial.
Em 2012, a Vale vendeu 148 milhões de toneladas de minério de ferro para o país, comparado com 60 milhões de toneladas para outros mercados na Ásia, incluindo Japão e Coreia do Sul.
A Vale mantém uma previsão "muito positiva" para a demanda da China e espera que Pequim mude suas regras de ancoragem, disse Faria.
As importações chinesas de minério de ferro entre janeiro e agosto cresceram 8% em relação ao mesmo período do ano passado. Os preços do minério de ferro caíram 12% este ano, mas Faria disse acreditar que os preços "não cairão de maneira significativa" nos próximos anos.
"Neste ano, vendemos tudo", disse. "Para os dois próximos anos, temos recebido indicações de que venderemos tudo. Então, não temos preocupações."
Faria disse que a nova liderança na China parece estar pressionando as empresas - estatais e privadas - a enfrentar mais as realidades de mercado. "O ambiente para nossos negócios na China estão ainda melhores", disse.