Infraestrutura deverá reforçar o consumo em 2016
As obras de infraestrutura estimuladas pela Copa do Mundo, pela Olimpíada de 2016 e as concessões de rodovias e aeroportos deram impulso ao consumo interno de aço nos últimos cinco anos, mas para analistas e a indústria a perspectiva é de estagnação do crescimento pelo menos até 2016.
"Governo ou oposição, seja lá quem assumir o comando do país em 2015, terá que primeiro botar a economia nos eixos, para depois pensar em promover novas concessões", diz o economista Bruno Rezende, da Tendências Consultoria.
A mesma opinião tem o CEO de Aços Longos Américas Central e Sul da ArcelorMittal, Jefferson de Paula, para quem o governo acerta em realizar parcerias com o setor privado para a realização de obras de infraestrutura, mas critica a lentidão do processo.
"Eu acho que está caminhando, mas não em ritmo adequado, porque o investimento sobre o PIB no Brasil é de 2,5% enquanto que o Peru gasta 5% do PIB. E isso gera um custo para nós muito grande. Os custos logísticos no Brasil estão 35% maiores que nos Estados Unidos, isso gera aumento de custo para os clientes, é parte do famoso custo Brasil", diz ele, que prevê crescimento zero no consumo de aço até 2016.
De acordo com a Tendências, nos últimos cinco anos a participação dessas obras de infraestrutura no consumo total de vergalhão, perfil estrutural e barra de aço no mercado interno brasileiro passou de 10% a 15% para 15% a 20% atualmente.
E a principal contribuição para esse crescimento veio das obras em aeroportos.
Indústria espera aumento da demanda de aço com a concessão para obras em ferrovias e portos no Brasil
"A tendência é estagnar nesse patamar, porque tivemos uma grande puxada com as obras de concessões de aeroportos, que demandam mais aço, e rodovias, que usam o produto em obras de apoio e cabines de pedágio. Mas a maioria das obras já saiu ou está em andamento, ficamos agora na espera das agendas de concessão de portos e ferrovias, o que vai depender do próximo governo".
A principal expectativa para os próximos anos, especialmente a partir de 2016, é com relação às concessões de ferrovias e portos.
"De ferrovias a lista é gigante, são as ferrovias contempladas no Programa de Investimento em Logística (PIL), lançado em agosto de 2012 pelo governo. Portos então são centenas, muitos já deveriam ter saído do papel", diz Claudia Oshiro, da Tendências.
À época, o governo estimava que os investimentos na área de portos seriam de R$ 54,2 bilhões e, de ferrovias, R$ 91 bilhões.
Mas para Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituo Aço Brasil, o PIL está demorando muito para se concretizar e precisa de ajustes.
"Existe uma distância muito grande entre o que é desejado, o que é anunciado e o que é realizado. Em ferrovias, não temos uma indústria nacional de trilhos. A única que tinha era da CSN, que foi desativada. É preciso de 500 mil toneladas anuais para justificar a instalação de um laminador voltado para a produção de trilhos. Como não há previsibilidade sobre a demanda, se ela ocorrerá e se ocorrerá de forma contínua, não se investe. Os trilhos para as ferrovias que estão em construção estão sendo importados".
Ele ainda reclama que havia grande expectativa para os investimentos em estádios e mobilidade urbana com a Copa do Mundo, mas o setor teve problemas com a importação do produto.
"Não aconteceram como esperado (as obras). As estruturas de aço na cobertura dos estádios foram construídas principalmente por aço importado (muitas estruturas foram importadas). E os investimentos em mobilidade urbana não avançaram como o desejado", afirma. Já para a Olimpíada, a sinalização é positiva, "mas negócios efetivados quase não existem".
Além dos planos do PIL para ferrovias, em maio de 2014, o governo ainda revelou que estuda um plano para a volta do transporte de passageiros por meio de trens aproveitando a malha já existente.
A terceira fase do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que começa este mês, prevê R$ 9,3 bilhões em investimentos na malha ferroviária.
Wermeson França, analista da LCA Consultores, diz que o que acontecerá com a agenda de concessões no próximo governo é imprevisível.
Para ele, tendo em vista o PIL, as vendas de aço serão aquecidas pelas obras que comportam o programa, mas quando isso vai começar depende de quem será eleito em outubro.
"Essa demanda vai aquecer as vendas de aço para o mercado interno. Não dá para falar que vai contrabalançar a queda nas exportações, porque o principal mercado para o setor é o mercado interno. Ainda há incerteza, mas se fizeram o que está no plano a demanda por aço estará aquecida nos próximos anos com essas obras de infraestrutura".
Além das obras de infraestrutura, o consumo de aço também foi importante na indústria naval, um dos principais clientes da Usiminas, explica o vice-presidente comercial da empresa, Sergio Leite. "No setor de infraestrutura, a Usiminas possui um importante foco nos mercados naval, offshore e de óleo e gás. Só nos últimos cinco anos, em média 36% das vendas para o segmento industrial da Usiminas correspondem ao atendimento direto da carteira de clientes destes mercado".
De acordo com ele, nesse período a Usiminas investiu na linha de laminação de chapas grossas da usina de Ipatinga, "com a instalação da tecnologia de Resfriamento Acelerado em 2010, e em uma nova Linha de Tiras a Quente, na Usina de Cubatão-SP, em 2012".
A empresa considera ainda que há uma demanda em potencial no setor de óleo e gás, principalmente devido à carteira de projetos da Petrobras.
Já no mercado de energia eólica, por se tratar de uma energia mais econômica e renovável que vem crescendo no Brasil, a Usiminas também fornece aço aos fabricantes de aerogeradores e torres dos principais parques eólicos do país, localizados no Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia e Rio Grande do Sul.
"Para essas aplicações são comercializadas chapas grossas de alta resistência mecânica, boa soldabilidade e capacidade de absorção de energia ao impacto, garantindo a integridade estrutural da peça. Com o sucesso dos leilões que estão sendo realizados, a Usiminas vislumbra um bom potencial de mercado para os próximos três anos".
O aço da companhia está presente também nas maiores hidrelétricas em construção como Teles Pires, Belo Monte e Complexo Hidrelétrico do Rio Madeira, formado pelas usinas de Santo Antônio e Jirau.
"Além disso, no fim do ano passado, a Usiminas começou a fornecer material para a hidrelétrica de Ituango, na Colômbia, maior obra em andamento na América Latina", diz o executivo.