Estudo propõe gavetário de contêineres em terminais de Santos
Triplicar o ganho financeiro de um terminal portuário ao duplicar a capacidade de armazenagem de seu pátio.
Essa é proposta de um projeto acadêmico que visa "engavetar" e automatizar a movimentação dos contêineres nas instalações do Porto de Santos.
A iniciativa propõe uma revolução no cais, visando a otimização do espaço e a eficiência operacional.
Despretensiosamente, um grupo de alunos do curso de Logística do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), de Santos, apresentou o chamado Projeto Gavetário ao corpo docente da instituição no final do último ano.
Os resultados previstos na proposta logo chamaram a atenção de um grupo de pesquisa, que iniciou o aprimoramento da ideia.
O modelo sugerido pelos estudantes prevê a movimentação de contêineres de maneira automatizada, desde o recebimento até o despacho, passando pela armazenagem nos pátios.
As caixas metálicas ficariam guardadas em estruturas elevadas, semelhantes a uma gaiola (confira no infográfico ao lado), e seriam movimentadas por mesas ligadas a um sistema de trilhos aéreos.
Segundo o coordenador dos cursos de Comércio Exterior, Logística e Gestão Portuária do Unimonte, professor Rodrigo Cardoso Silva, a instalação desse projeto dobraria o atual capacidade de armazenagem dos terminais.
“Uma vez que não haverá mais a necessidade de áreas livres para manobras de veículos, elas passariam a ser utilizadas”, explicou.
E com esse melhor aproveitamento dos espaços da instalação, o ganho financeiro pode mais que triplicar.
“No primeiro mês de funcionamento, o estudo prova que ele aumenta em até 25% o superávit do terminal”, lembra o docente Rafael Alves Pedrosa, que participa dos estudos de viabilidade.
De acordo com os professores, essa proposta pode ser implantada com um baixo custo, considerando os ganhos financeiros e operacionais.
Conforme a pesquisa já realizada, o investimento na estrutura de 20 módulos é estimado em pouco mais de R$ 200 mil.
Da instalação dos esqueletos metálicos até a operacionalização, o prazo pode variar de seis meses a um ano.
Otimização
Atualmente, portos do Oriente já trabalham com propostas semelhantes.
Em Cingapura e na Coréia do Sul, por exemplo, há estruturas de armazenagem de contêineres que lembram estacionamentos automatizados de veículos.
Neste caso, o equipamento visa suprir a falta de espaços nessas regiões superlotadas.
O conceito é o mesmo do adotado no projeto de pesquisa, lembra o professor Rafael Pedrosa.
E a gaiola de contêineres pode ser interligada aos demais modais logístico.
“Na área de recepção, é possível manter ramais ferroviários e vias de acesso a caminhões contêineiros, otimizando ainda mais a capacidade operacional e reduzindo impactos”.
Além disso, a estrutura eliminaria por completo o limite de altura e de margem de segurança nas extremidades dos pátios de contêineres, uma vez que do primeiro ao último andar, as caixas estariam engavetadas.
De uma maneira geral, tanto a zona primária (costado) como a secundária (retroporto) seriam beneficiadas.
Entraves
Em Santos, de acordo com os docentes, apenas duas instalações portuárias tem condições de receber esse tipo de estrutura a curto prazo.
São as unidades da Brasil Terminal Portuário (BTP) e da Empresa Brasileira de Terminais Portuários (Embraport).
Não por acaso, são as mais novas empresas a operar no complexo marítimo.
“Os pátios deles são os únicos capazes de comportar o peso dessa estrutura”, afirma Rodrigo Cardoso Silva, ao explicar que as fundações e os pisos dos demais terminais teriam que passar por reforço, a fim de sustentar a gaiola onde ficariam os contêineres.
No caso de áreas arrendadas, ele lembra que a União tem motivos de sobra para bancar essa adequação, uma vez que ampliaria a capacidade operacional do Porto de Santos e, consequentemente, traria benefícios rápidos à economia do País.
Projeto surgiu de trabalho acadêmico
Sete estudantes do curso de Logística do Unimonte foram os responsáveis por formular o Projeto Gavetário para o Porto de Santos, no último semestre, por meio de um trabalho acadêmico.
Surpresos com o resultado, esperam colher, em um futuro próximo, os frutos da proposta, que agradou o corpo docente do centro universitário.
A ideia, porém, partiu de um irmão de um dos alunos.
“Ele trabalha na área e trouxe isso para mim. Sentei com o grupo e viabilizamos, dentro das nossas possibilidades, a proposta”, conta o estudante Valderson Souza, de 34 anos, ao creditar o gavetário ao irmão, Vanderson.
No grupo de alunos, cada um utilizou seus conhecimentos específicos para desenvolver o projeto.
É o caso de Aline Lupi, de 33 anos, a única mulher na equipe.
Com noções de Administração, ela calculou, com base em valores de mercado, os gastos e ganhos com a implantação da estrutura e a automatização das operações.
“O investimento estrutural, para muitos, será o principal, já que a tecnologia já existe”, disse.
Participantes do estudo, Wagner Godoy, de 19 anos, Jeferson Alves, de 28, e Leonardo Moura, de 34 anos, utilizaram seus conhecimentos portuários – uma vez que já trabalham na área, em operadoras do Porto de Santos – para desenvolver a proposta.
“Com quem eu converso sobre o projeto, tenho recebido elogios e notado interesse”, afirma Godoy, entusiasmado.
O estudo, que também teve a participação dos universitários Maurício Santos e Edgar Oliveira Santos, passa agora por um aprimoramento para, então, ser apresentado oficialmente ao mercado.
Espera-se que no próximo mês, os operadores portuários já comecem a receber visitas dos docentes e dos discentes para estudarem a implementação da estrutura em suas instalações.