Cabotagem quer crescer no País com expansão de clientes de menor porte
Com avanço médio de 30% ao ano, desde 2008, empresas especializadas em cabotagem - transporte marítimo de cargas pela costa - apostam na massificação do modal entre pequenos e médios empresários para driblar a crise e manter crescimento até 2020.
Para atender a demanda em potencial, companhias como Aliança, Hamburg Süd, Maersk e Log-In apostam em renovação de frotas, ações sustentáveis e outros diferenciais para crescer.
"A cabotagem no País ainda tem uma estrutura tímida, com adesão principalmente de grandes empresas internacionais. Agora é a hora de trazer o pequeno e médio empresário", diz o engenheiro marítimo e consultor para o mercado portuário, Marcelo Ramos Abreu.
Apesar do modal rodoviário ser o mais usado, questões como aumento do frete - impulsionado pela alta do diesel - pode mudar a cultura "O bolso fala mais alto. Agora a cabotagem se torna mais competitiva", disse ele.
Outra solução apontada para o modal se tornar uma realidade para o empresário menor, segundo Abreu, é a voltada para a integração. "Sozinha, uma empresa de pequeno porte não tem muito poder de negociação, mas juntas, elas conseguem reduzir até 40% os custos de uma operação de cabotagem"
Olho nas PMES
Na Hamburg Süd, a proposta para avanço este ano é pelo incremento de clientes menores. "É muito viável que eles passem usar cabotagem. A redução de custos é de no mínimo 15%. Dependendo das circunstâncias, a carga e a distância podem aumentar mais", diz o diretor da empresa, Julian Thomas. No último ano, a empresa somou 290 novos clientes no Brasil. "Eles buscam a cabotagem para economizar, já que se gasta menos com combustível, entre outras vantagens", explicou o diretor, ao DCI, prevendo um crescimento entre 10% e 20% no modal apenas este ano.
Participação pública
Para que o mercado cresça de maneira substancial, no entanto, ainda é preciso resolver questões que tocam a esfera pública. Este ano, a presidente Dilma Rousseff garantiu que o modal está entre as prioridades dentro programa de investimento na area de portos.
A perspectiva do governo é a de reforçar a competitividade da cabotagem, ampliando os aportes em portos para dar mais acessibilidade aos terminais nesse tipo de operação. Para que seja estimulado o setor, a presidente disse não descartar ações como a desoneração tributária para a construção de embarcações.
Este ano, a Hamburg Süd anunciou R$ 700 milhões de investimento em seis navios para ampliar a cabotagem e, segundo Thomas, a empresa pensou em construí-los por aqui, mas os estaleiros não ofereciam as condições necessárias. "Os [portos] que ofereciam trabalhavam muito para a Petrobras e não tinham capacidade para nos atender. Então decidimos importá-los".
"A falta de navios é uma questão importante, mas não é o principal entrave para o desenvolvimento desse setor. O que precisa agora é investir na adequação dos terminaism além de amplas ações para desburocratizar o processo de chegada e dar ainda mais agilidade no processo logístico", afirmou o Abreu.
De opinião similar partilha Thomas, que vê a situação mais dramática da cabotagem no Brasil no Porto de Santos. "As autoridades têm projetos para dragagem. Existe a intenção, mas tem a restrição financeira", disse, lembrando que o porto de Paranaguá conseguiu avanços mais expressivos para o setor nos últimos anos.
Para o diretor executivo da Hamburg Süd no Brasil, José Roberto Salgado, enquanto as licitações para dragagem não saem do papel, a empresa foca os serviços na prestação de atendimento ao cliente. "Estamos expandindo a estrutura portuária. Apenas no porto de Manaus devemos investir R$ 40 milhões", ressaltou.
Sustentabilidade
Para atrair mais clientes e avançar com cabotagem este ano, a aposta da Log-In é associar o setor com sustentabilidade. A empresa, que participará da 21ª edição da Intermodal South America, evento que começa amanhã (7) em São Paulo, elevará esse conceito aos visitantes. "Vamos levar à feira, a cabotagem integrada à sustentabilidade, tanto para ganho ambiental, com cases de clientes que usam o serviço para atingir metas de eficiência energética, quanto no que diz respeito às perdas mínimas de roubos e avarias e otimização de custos", diz o diretor Comercial da Log-In, Márcio Arany.
No quatro trimestre de 2014, a empresa transportou 44,1 mil TEUS só com cabotagem, alta de 42,4% em relação ao mesmo período de 2013. No acumulado do ano, a companhia movimentou 272,1 mil TEUS, crescimento de 12,3% na mesma base. "Nossa perspectiva este ano é manter o ritmo de desenvolvimento bastante superior às taxas da economia brasileira", completou.
Roubo de cargas
Na Maersk, a busca por novos clientes se apoia nos benefícios trazidos pelo modal. Para o diretor comercial da Mercosul Line, Roberto Rodrigues, os roubos de cargas em rodovias é um dado importante na hora de escolher a forma do transporte. "O Brasil é um dos países de maior risco no mundo para o transporte rodoviário de mercadorias, o que eleva os custos. A cabotagem é uma solução mais barata e segura para a indústria e as empresas agrícolas, bem como para a sociedade, reduzindo acidentes nas estradas e custos relacionados, tráfego e poluição" diz.
No caso de cargas com alto valor agregado, como equipamentos eletrônicos, além da segurança contra roubos, o modal também diminuir a avaria dos itens. "É mais barato, seguro, rápido e melhor que os produtos sejam enviados por mar do que fazer com que uma televisão ou um aparelho de Blu-Ray atravesse o País por estradas irregulares e, muitas vezes, esburacadas" completa.
Ano passado, a Mercosul Sul Line, da Maersk, investiu US$ 200 milhões na aquisição de três novos navios, pata atender clientes de Manaus a Itajaí e transportar mercadorias para Montevidéu (Uruguai), e Buenos Aires (Argentina), em sua rota do rio da Prata, além do litoral brasileiro.