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'Custo Brasil' faz produtos ficarem 23,4% mais caros

O período de alta volatilidade no câmbio, como o observado nos últimos meses, tem levado preocupação ao exportador. Travar a taxa correta em uma negociação futura virou tarefa difícil em uma moeda que já oscilou 13% do começo do ano até abril. Saiu de R$ 2,66 em janeiro, bateu em R$ 3,20 em março e hoje é negociada próximo a R$ 3,00.

"Recomendo aos exportadores duas regras básicas. Primeiro: faça hedge sempre. Segundo: não se aventure com especulações", afirma Nathan Blanche, sócio da Tendências Consultoria e um dos idealizadores do mercado futuro de câmbio no país, em 1986. Para ter uma ideia exata de quanto essa proteção é necessária, nos últimos 12 meses, segundo indicador de volatilidade cambial da Bloomberg, o Brasil foi o segundo país onde houve maior oscilação da moeda frente ao dólar, ficando atrás apenas na Rússia. Isso devido não só ao fortalecimento da moeda americana no mundo todo, mas também devido às incertezas econômicas e a crise de credibilidade política que o país enfrenta. "Toda essa oscilação traz desvantagem competitiva ao exportador e tem impacto na formação de preços internos e externos. Gera distorção de preços", avalia Blanche.

Para Tarcísio Rodrigues, diretor de câmbio do Banco Paulista, como a moeda oscila muito, muitas empresas olham para o câmbio com certo temor, e esquecem que o ele não é causa, mas consequência de política econômica mal adotada. Rodrigues alerta para o fato de muitas exportadoras possuírem mesas de operação de câmbio maiores do que as de muitos bancos. "É a supervalorização do câmbio, que não deveria se sobrepor à operação em si", diz.

Outro ponto relevante é quanto produto importado está embutido no que se vai exportar. Se a exposição for elevada, os ganhos com a alta do dólar diminuem. "Um típico caso é o da Embraer que monta suas aeronaves com muitas peças importadas", considera Marcos Mendes Trabbold, chefe de operações de câmbio da B&T Corretora.

Mesmo em uma situação de vantagens e ganhos de margens, dificilmente o exportador vai embolsar o lucro sozinho. "O cliente internacional sabe se as margens do exportador estão aumentando e irá pressioná-lo para abaixar seu preço se isso acontecer. Ele vai querer dividir os ganhos", alega Gustavo Magalhães, sócio-diretor do Grupo Ático, gestora independente, que administra R$ 1,4 bilhão.

Adicionadas a tudo isso estão as constantes intervenções do Banco Central comprando e vendendo dólar para não permitir distorções e ataques especulativos externos. Mas alguns analistas veem exagero nessas ações. Como no último ciclo de desvalorização do real que começou em maio de 2013, com a decisão do Federal Reserve (FED) de reduzir o programa de estímulos monetários à economia americana, que depois foi postergado. Só com o anúncio, a taxa dos títulos do governo americano de dez anos subiu rapidamente de 1,60% para 3,0%. O mundo inteiro viu suas moedas se desvalorizarem, mas o Brasil sentiu um pouco mais. Desde então o BC começou a intervir no mercado futuro de câmbio. "O Brasil foi o país que mais interviu no câmbio. Claro que o BC tem que defender a moeda, mas foi longe demais", afirma Blanche.

Existem hoje cerca de US$ 400 bilhões em contratos cambiais abertos negociados na BM&F Bovespa. Do total, cerca de 75% são de empresas exportadoras, tentando se proteger do sobe e desce da moeda.

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