Entrevista com Ricardo Arten - O Sol Diário
Em comparação com outros terminais operados pela APM no mundo, a operação Itajaí é viável?
Em toda a nossa história em Itajaí, este é o terceiro ano em que a APM Terminals Itajaí amargará perdas consideráveis. Nos outros dois, por ocasião de duas enchentes trágicas que acometeram o município, nós trabalhamos arduamente para reerguer a cidade. Desta vez, estamos enfrentando um cenário diferente, em que a causa está relacionada a uma assimetria entre portos públicos e privados. A conta que temos que fazer é simples: se tivermos nossas operações expandidas para os berços 3 e 4 e conseguirmos a extensão de contrato para 2043, que são os processos que tramitam hoje em Brasília, teremos condições de investir em mais e melhores equipamentos, aumentar a nossa produtividade e sermos mais atraentes ao mercado, tanto no que diz respeito aos custos existentes, quanto no que tange aos preços praticados.
A APM vai deixar Itajaí?
Não. A APM Terminals não irá deixar Itajaí. Somos parte de um conglomerado global que está nos oferecendo suporte neste momento, tendo em vista o impacto econômico e social da nossa presença aqui. Inclusive, o armador chefe que continuará acreditando em Itajaí durante este difícil ano, assim como permanecerá com todos os seus serviços e consórcios conosco é a Maersk Line, empresa co-irmã da APM Terminals, ambas pertencentes ao Grupo A.P.Möller – Maersk. Em poucas palavras, em uma situação de incertezas e sem sabermos quais serão as deliberações futuras em relação a este imbróglio, é o comprometimento deste Grupo com a cidade que manterá a atividade portuária deste Complexo. Vamos honrar nosso contrato e seremos a empresa que apoiará a cidade neste período de crise. Nossa responsabilidade só fica mais forte neste momento. Perdemos esta batalha, mas junto com os atores do segmento portuário itajaiense, voltaremos muito mais fortes em 2015 para novos BIDs.
Já há uma previsão de prejuízos?
Estamos minimizando a ocorrência de prejuízos a partir de drásticas medidas de redução de custos. Entretanto, nossos custos mais altos estão relacionados às obrigatoriedades com a mão-de-obra avulsa e as taxas à Autoridade Portuária.O fato é que, não bastassem as assimetrias concorrenciais entre os contratos de arrendamento público e as autorizações de exploração por terminais privados, a nossa regulamentação relacionada ao uso de mão-de-obra avulsa é ultrapassada. Eu não estou criticando a remuneração do trabalhador, mas as quantidades que precisamos recrutar por terno, por exemplo. Hoje em dia, com a automatização de diversos processos, não há mais a necessidade de serem chamados de 18 a 22 trabalhadores por terno. Enquanto a APM Terminals Itajaí precisa pagar por este “efetivo” extra, os terminais privados podem realizar uma operação destas com sete profissionais próprios envolvidos. O custo é muito menor.Há também que se considerar que outros terminais privados que operam no país fizeram acordos com os sindicatos e absorveram parte desta mão-de-obra, uma vez que foram beneficiados por se instalarem em Complexos Portuários existentes, localizados em regiões que têm tradição em relação à mão-de-obra especializada. O mundo mudou e agora é a hora exata de discutirmos a relação capital/trabalho e torná-la competitiva. No que diz respeito as taxas à Autoridade Portuária, os terminais privados não são onerados em relação a nenhum pagamento. Quem mantém praticamente 100% da estrutura da Superintendência do Porto de Itajaí é a operação da APM Terminals. Diminuindo o volume, não se sabe ao certo como a SPI honrará seus compromissos, pois a receita proveniente da APM Terminals cairá abruptamente. O OGMO é outra organização que precisará ser otimizada para que possamos oferecer um preço mais competitivo ao mercado.