Profundidade do canal é uma informação estratégica para segurança do navio
Quando um navio trafega em um canal ou uma baía, a profundidade do local é uma informação estratégica para sua segurança. A embarcação não pode raspar no leito, sob o risco de bater seu casco em alguma rocha ou objeto (e até naufragar) ou, se encontrar bancos de areia, encalhar.
Nessas condições, o navio deve manter uma distância segura do leito marítimo (ou fluvial). Para isso, é definido um limite da profundidade a ser atingida por seu casco (especificamente, por sua quilha). A altura da parte do casco que permanece submersa é o calado desse cargueiro.
No Porto de Santos, a via de navegação apresenta, atualmente, cerca de 15 metros de profundidade na maioria de seus trechos. E, nesses pontos, os cargueiros devem manter, pelo menos, 1,8 metro de folga. Assim, o limite máximo para o calado é de 13,2 metros.
Tal medida não é aleatória. Pelo contrário, essa margem de segurança é definida a partir de pesquisas feitas por autoridades e centros de estudos internacionais, como a Associação Mundial para a Infraestrutura do Transporte Marítimo (conhecida como Pianc). Para determinar essa folga, o órgão leva em conta a embarcação, o nível do mar e o sedimento que forma esse leito.
Um dos aspectos analisados é a variação da densidade da água. Em um rio, um navio afunda mais do que em um estuário e mais ainda do que em alto-mar. Isso ocorre pois, onde a água tem maior densidade, ele flutua mais – a água salgada é mais densa que a doce.
Outro fator é o squat. Trata-se de um fenômeno observado principalmente em águas rasas. Nele, o navio vê seu calado ampliado (afunda) devido a sua velocidade. No livro Engenharia Portuária, o professor Paolo Alfredini afirma que tal oscilação pode variar de 0,3 a 0,9 metro.
A determinação da folga também leva em consideração os efeitos das ondas. Ao passar por elas, a embarcação a percorre ficando com a proa (frente) e a popa (ré) desniveladas, Assim, a parte que fica no ponto mais baixo da onda (seu vale) acaba afundando mais.
Também há a necessidade de se manter uma folga sobre a quilha a fim de facilitar a navegação. A Pianc recomenda pelo menos 5% do calado ou 0,6 metro (o que for maior) a fim de atender essa medida. Conforme Alfredini, mo deslocamento de um navio, essa medida pode variar de 0,6 a 1,2 metro, dependendo da velocidade e do material do fundo do canal.
Por fim, o cálculo da folga considera as obras de dragagem e as irregularidades do leito da via de navegação. Há de se compensar o assoreamento (depósito de sedimentos) ocorrido desde que a profundidade foi medida, assim como alterações no leito devido às correntes e eventuais.