Dragagens atacam os efeitos e não as causas do assoreamento
São frequentes e muitas vezes parecidas as notícias sobre o complexo portuário de Itajaí/Navegantes, onde o que não falta são as encorpadas cifras dos custos dos desassoreamentos. No início do ano divulgou-se que a dragagem da bacia de evolução do complexo, permitindo operações de gigantes de 355 metros de comprimento, custaria, só numa primeira etapa, R$165 milhões.
Obras de desassoreamento da área portuária nunca custam pouco. A próxima, para retirada de uma camada de quase três metros de altura que o rio depositou no fundo do canal e área do porto na última cheia, está orçada em R$ 65 milhões, fora o “prejuízo milionário” decorrente da paralisação dos trabalhos dos portos devido à correnteza e às incertezas sobre a profundidade em que ficou o canal.
Dragagens atacam os efeitos e não as causas do assoreamento, assunto distante das prioridades governamentais. Aceita-se como “natural” que uma única enchente, como a última acontecida, descarregue cerca de 4 milhões de metros cúbicos de sedimentos no leito das águas do porto e ponto final. O resultado é um assoreia-desassoreia sem fim e uma sangria de recursos tida como normal, quando, absolutamente, não é.
A quase única diferença com o caso do rompimento da barragem em Minas Gerais é que lá o impacto foi agudo, repentino, brutal, enquanto que o desastre aqui no Vale é crônico, velado e canceroso.
A patológica hemorragia de solos urbanos e rurais que acaba caindo nos rios da região, na intensidade que acontece, pouco tem de natural, muito menos de normal. Nos mais de 50 municípios do Vale do Itajaí, pouco se faz para sanar, muito menos prevenir essa patologia ambiental, mais uma das tantas “humanoses” com que o homem se torna nocivo ao meio ambiente e a si próprio. A principal manifestação deste tipo de humanose é que, durante uma cheia, o rio Itajaí transporta mais de 8 toneladas por segundo de sedimentos, quase igual a um trem carregado que passa dia e noite sem parar, enquanto dura a enchente, em direção ao baixo vale e ao mar.
Acho injusto que outros cofres do governo arquem por um problema que poderia ser evitável na fonte. Por que então não cobrar a despesa dos responsáveis pela erosão? Partindo do princípio poluidor-pagador, por que não ratear o custo da manutenção do canal do complexo portuário entre os municípios do vale que pouco controlam a erosão dos seus solos, origem de tanto assoreamento? Isso daria uma média de R$ 2 milhões por ano, encarecendo, obviamente, para os municípios onde ocorre mais erosão evitável. Simples assim.