Custo diário de empresas brasileiras é 80% superior
O custo operacional diário de um navio brasileiro de cabotagem chega a ser, em média, 80% mais caro que o de uma embarcação de bandeira de conveniência, que se caracteriza por oferecer incentivos fiscais e pela inexistência de vínculo entre o Estado de registro e o navio. A diferença se aplica tanto a porta-contêineres quanto a graneleiros.A conclusão foi apresentada ontem, dia 13, pelo diretor-geral da V. Ships Brasil S.A, Eduardo da Cunha Bastos, durante o último dia do 1º Seminário sobre o Desenvolvimento da Cabotagem Brasileira, realizado em Brasília, numa parceria entre o Syndarma (Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima) e a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários).
O levantamento listou custos como salário, logística, tripulação, prêmio e valor de seguro, material de custeio, inspeções, manutenção e gastos com peças sobressalentes, dentre outros aspectos.
No caso de um navio com capacidade para transportar 2 mil Teus (unidade de medida equivalente a um contêiner de 20 pés), com cerca de três anos de idade, o custo diário para o armador brasileiro é de, em valores aproximados, US$ 9 mil. Para o de bandeira de conveniência, cai para US$ 5 mil.
Recaem sobre itens como salário e logística e pagamento da tripulação as maiores dissonâncias. Enquanto a carga de salário e logística de uma companhia brasileira é de aproximadamente US$ 2, 3 milhões por ano, a de uma empresa sem registro nacional é de US$ 960 mil, no mesmo período. Quando comparados os gastos com tripulação, são US$ 2,3 milhões contra US$ 959 mil, respectivamente.
"Com essa diferença, há um campo bastante grande para se propor mudança de ações. Esse País não pode viver de costas para o mar. Hoje, estamos não só de costas, mas caminhamos para os Andes", afirmou Bastos. "A logística está impactando de forma virulenta o custo da mercadoria", completou.
Para a superintendente de Navegação Marítima e de Apoio da Antaq, Ana Maria Pinto Canellas, ao contrário do que propõem usuários do transporte marítimo, a política de Estado é manter a reserva do mercado de cabotagem para empresas brasileiras de navegação e não flexibilizar as regras de afretamento de navio estrangeiro.
Ao questionar o que se poderia fazer para desonerar a atividade e dar igualdade de condições para a navegação brasileira doméstica, a dirigente da agência reguladora ouviu do secretário de Política Nacional de Transportes do Ministério dos Transportes, Marcelo Perrupato, que "esse é peso das conquistas trabalhistas dos brasileiros".