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Navio gira 180º durante manobra no Rio Itajaí-Açu

A cena beira o surreal: um gigante de 300 metros de comprimento, carregado de contêineres, desliza suave e lentamente, de ré, até a nova área de manobras do Rio Itajaí-Açu. O navio para, por instantes que parecem eternos. Os rebocadores, pequenas embarcações de propulsão que o acompanham, começam a empurrar a proa e a popa. Em minutos, o monumental conjunto de aço gira 180º. Como num balé sobre as águas, o navio está agora de frente para oceano. E pronto para seguir viagem.
 
A primeira manobra-teste na nova bacia de evolução dos portos de Itajaí e Navegantes foi um sucesso. O navio escolhido para a operação, de bandeira de Malta, recebeu o nome de Valor. Um acaso, que trouxe simbolismo extra à operação. 
 
"Valor" resume o que a área de manobras representa para o segundo maior Complexo Portuário do país, e para o Estado de Santa Catarina. A estrutura, que custou mais de R$ 170 milhões, é vital para manter os portos competitivos.
 
A autorização da Marinha para o giro experimental era aguardada desde o ano passado. Antes disso, os práticos, que manobram os navios, haviam testado a bacia de evolução em alguns dos mais modernos simuladores do mundo, na Holanda. 
 
Mas a simulação não carrega a mesma expectativa e apreensão de uma manobra real. E quem convive com o porto sabe disso. Em Itajaí e Navegantes, parte das duas cidades parou e uma multidão se reuniu nas duas margens do Itajaí-Açu para acompanhar o giro. 
 
Esse tipo de manobra já é feito rio acima. Mas nunca antes havia sido executado em frente ao Saco da Fazenda e à Avenida Beira-Rio. Foi como manobrar "na vitrine", sob os olhos atentos dos espectadores.
 
Não eram apenas curiosos. Funcionários de empresas de comércio exterior, logística portuária e de navegação marítima também quiseram ver de perto a manobra. O giro na nova bacia de evolução é condição para que os portos locais atraiam novas linhas.
 
O superintendente do Porto de Itajaí, Marcelo Salles, comemorou o bom resultado da manobra. A nova bacia de evolução permitirá a entrada de navios de até 336 metros de comprimento nos portos de Itajaí e Navegantes - hoje, o limite é de 306 metros. 
 
A mudança de parâmetros deve aumentar em 30% a movimentação de contêineres, o que representa R$ 27 milhões a mais de receita nas atividades ligadas ao setor portuário. 
 
Canal fechado
A operação demandou cuidados extras. O canal de acesso aos portos foi fechado para a manobra por determinação da Marinha - algo raríssimo, só visto, antes, na chegada das embarcações que disputam regatas internacionais com parada em Itajaí. 
 
O ferry boat teve as operações suspensas, e nenhuma embarcação de passeio ou pesca foi autorizada a navegar pela foz do Itajaí-Açu durante o teste.
 
Usuários do ferry boat que foram pegos de surpresa pelo fechamento tiveram auxílio da Coordenadoria de Trânsito (Codetran). Parte dos motoristas usou a balsa que fica na Barra do Rio, que permaneceu ativa devido à distância da manobra.
 
A obra
As obras da nova bacia de evolução iniciaram em 2016, executadas pelo Governo do Estado - uma das maiores obras de infraestrutura dos últimos anos. A ordem de serviço foi assinada pelo então governador Raimundo Colombo (PSD). 
 
Em abril do ano passado, o Estado considerou as obras concluídas de acordo com o contrato, que previa dragagem de 3 milhões de metros cúbicos. Mas a bacia de evolução não havia chegado à profundidade necessária, de 14 metros. O investimento estadual foi de R$ 128 milhões, mas a bacia não tinha condições para ser usada.
 
Em junho, A Superintendência do Porto de Itajaí e a Portonave, em Navegantes, assumiram os trabalhos. O investimento foi de R$ 40 milhões, e a dragagem foi concluída em outubro. Desde então, a obra aguarda o processo de reconhecimento pela Marinha.
 
Prejuízo
Só a Portonave deixou de receber, no ano passado, 30 escalas de navios que integram serviços operados pelo terminal, mas que foram desviados para outros portos porque o comprimento ultrapassa os limites do Complexo Portuário. Embora o terminal não informe a perda financeira, um levantamento feito pela coluna chegou à cifra de R$ 60 milhões de prejuízo à cadeia portuária. 
 
O teste desta quinta-feira foi uma primeiro de uma série de seis manobras experimentais. Outras cinco devem ocorrer nas próximas semanas. 
 
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