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Lista afeta pouco o produtor dos EUA, dizem empresários

A lista de bens para a retaliação comercial aos Estados Unidos (EUA) deve ter efeitos limitados sobre fabricantes e fornecedores americanos. Essa é a avaliação de alguns setores locais que tiveram produtos incluídos na lista feita para a aplicação da decisão em que a Organização Mundial do Comércio (OMC) condenou os subsídios americanos aos produtores de algodão e concedeu, ao Brasil, o direito de represália comercial.

"A retaliação afeta muito pouco a produção americana", diz o presidente da Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva), Jörg Henning Dornbusch. Ele lembra que, para os importadores, os automóveis listados representam 13% a 14% das vendas no Brasil, mas apenas 0,1% ou 0,2% da produção americana de carros. Pela lista divulgada ontem pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), os veículos importados dos EUA passam a ter alíquota de importação elevada de 35% para 50%.

Dornbusch, que também é diretor-presidente da BMW no Brasil, diz que em 2009 a montadora alemã vendeu cerca de 700 unidades dos modelos X5 e X6 importados dos EUA, ao preço médio de R$ 320 mil a unidade. A sobretaxa, diz, vai provocar aumento estimado em 9% ou 10% no preço ao consumidor. Segundo ele, a BMW não planeja parar de importar os dois modelos afetados com a retaliação, mas é possível que diminua os volumes, caso haja perda de mercado em função da elevação de preço.

A Mercedes-Benz tem análise semelhante. Segundo a assessoria de imprensa, as importações de veículos dos EUA devem continuar. A sobretaxa deve afetar os preços no mercado brasileiro. Dos 5,3 mil automóveis vendidos pela empresa no Brasil em 2009, 435 vieram dos Estados Unidos. Em nota, a Chrysler diz que os modelos importados dos EUA representam de 10% a 15% do mix de produtos vendidos no Brasil. A maior parte dos veículos é importada de outros países, como México, Áustria e Canadá.

A Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) também emitiu uma nota. Nela, a entidade diz que, a princípio, a "inclusão dos automóveis na lista preocupa". A Anfavea diz que espera uma solução negociada até o início da retaliação.

Entre as montadoras com fábrica no Brasil, a expectativa fica em torno da General Motors, com a esperada comercialização de novos modelos importados dos Estados Unidos. Procurada, a fabricante não se manifestou.

O setor automotivo não é o único que vê efeitos restritos na retaliação. Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), diz que a lista deve ser inócua porque os produtos escolhidos são importados predominantemente da China. "Alguns itens, como terminais portáteis de telefonia celular, são importados por subsidiárias americanas", informa. Mas ele explica que são compras pequenas e que podem passar a ser adquiridas de outros países. "Estamos satisfeitos porque o setor é grande importador de componentes, mas a lista não afeta os fabricantes brasileiros."

No setor farmacêutico, os itens que deverão sofrer retaliação também têm pouco impacto econômico porque são pouco representativos na pauta de importações. A maior preocupação no segmento é a mudança que isso pode causar na cadeia de suprimentos, o que pode afetar a qualidade do medicamento, diz Antonio Britto Filho, presidente-executivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). Ele lembra que os preços dos medicamentos no Brasil são controlados. Portanto, um aumento de custo pode não ser repassado ao preço ao consumidor. Ele não acredita, porém, em risco de falta de medicamentos.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), os produtos têxteis e de confecções manufaturados da lista somaram no ano passado US$ 31 milhões em importações dos EUA, o que significa 24% do total de importados pelo Brasil dos mesmos itens. O valor, porém, é pequeno em relação aos total de US$ 3,4 bilhões em têxteis e confecções manufaturados importados pelo Brasil em 2009. Para o presidente da entidade, Fernando Pimentel, a sobretaxa fará com que os itens sejam comprados de outros fornecedores.

Em nota, a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) lamentou a inclusão do trigo em grão na lista. Segundo nota da entidade, o cereal americano tem sido uma fonte de suprimento relevante para os moinhos brasileiros toda a vez que a produção nacional ou a argentina não são suficientes. Nesses casos, o trigo americano tem tido preferência por motivos de preço, qualidade e sobretudo proximidade do mercado consumidor. A sobretaxa deve aumentar o custo para os moinhos brasileiros, com impacto no preço do pão e das massas.

Para a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), a lista " é importante porque existe". Segundo o presidente da entidade, Haroldo Cunha, os itens nela incluídos podem não fazer muita pressão sobre os americanos. "A lista, porém, é um passo para a retaliação cruzada, que deve fazer maior diferença."

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